Falem comigo vascaínos!
Hoje tenho o imenso prazer em dividir com meus amigos vascaínos, um texto feito por Jo Mariano, flamenguista, escritor, e
dono do blog Flagaiato. E antes que me critiquem ou parem de ler, ja vou dizendo que o cara me emocionou com um texto maravilhoso homenageando o grande vascaíno CHICO ANYSIO. Merece estar aqui, e tenho certeza que vocês irão gostar!
Chico Anysio é talvez o brasileiro
mais brasileiro da história. Se não por brasileirismo por maioria de votos.
Vascaíno declarado, filho de um ex-presidente do Ceará e amante do futebol (de
onde tirou a personagem Bolada, um fanático admirador do esporte bretão), Chico
nunca escondeu seu carinho pelo Brasil, pela sua gente e pelas peculiaridades
brazucas. O homem multifaces é a personificação do pensamento inútil que tanto
defendo: De que ligar o Vasco da Gama à Portugal é canalhice das grossas.
De português o Vasco só tem o
nome, porque a alma, assim como a de Chico é brazuca, afinal não dá pra achar
veia portuguesa em quem viveu durante toda a existência 210 fidedignos
brasileiros. Chico, o único Francisco que escolheu ser Chico, tinha correndo em
suas veias cruzmaltinas muito do que julgo correr nos canais sanguíneos da
brazucada. Mulambismo - talvez por já ter sido Flamengo ao longo de sua longa
vida. Desculpem-me, mas sem uma boa dose de morro, fome, tragédia e chinelo não
se faz piada, não se vira Chico. E ele foi um homem que mesmo no auge, já bem
sucedido sempre deixou claro que ser mulambo é ser brasileiro e fugir do
mulambismo é negar as raízes.
Em seus 209 personagens é
impossível que não nos víssemos em pelo menos um. Veja que ironia, eu me vendo
na pele de um ilustre vascaíno. Mas Chico era mais que vascaíno, ele era
brasileiro, era gente da gente, era gente que ria, era gente fazia sorrir. Era
gente que nos momentos de alegria se rasgava e na hora da tragédia se rasgava
mais ainda.
Certa vez disse que da morte não
tinha medo, mas da morte tinha pena. Sim, eu também tenho pena da morte. Virou
piada anos seguidos nas mãos do mestre Chico. Judiou, jogou no chão, entrevou,
tirou o ar, mas Chico riu. Chico apenas sorriu. Sorria ironicamente como
naquele pênalti maroto que o árbitro contra seu Vasco marcava. Quem era a morte
para tirar do ar o velho Chico?
Logo o Chico palmeirense,
vascaíno, já rubro-negro, americano, gremista, colorado e cruzeirense quando em
Minas? Quem a morte pensa que é? Aliás, não acredito que hoje a Velha louca da
foice inflamada tenha enfim vencido. Chico que cansou de fazê-la de idiota e
resolveu se retirar para da morte poder rir sozinho.
O inimaginável Chico se foi, mas
suas memórias e seu amor pelo futebol certamente ficarão. Os times brasileiros inclusive
deveriam todos estar de luto, pois morreu o velho comentarista de futebol da
Rádio Tupi de tempos longínquos cujos admiradores afirmam que dizia menos
asneiras que Galvões, Arnaldos e Noronhas. O mínimo a se fazer é geral entrar
de luto pelo velho Chico que dentre tantas obras primas como comediante, humorista,
pintor e comentarista deixou um pensamento interessantísimo que certamente um
dia o canonizará como o padroeiro dos Vira-casaca.
“Eu acho o seguinte: você muda de mulher e não é vira-leito. Você muda
de rua e não é vira-placa. Você muda de fé e não é vira-cruz. Quando muda de
time, é vira-casaca. Por quê? Eu estou Vasco. Se o Vasco fizer uma grande
sacanagem com alguém amanhã, eu deixo de ser. Imediatamente.”
Não deu tempo da sacanagem acontecer
e a luz do velho maranguapense se acendeu Ceará, virou Palmeiras, foi Flamengo,
América e tantos outros, mas se apagou e se eternizou como cruzmaltina. Agora
sim ele será para sempre lembrado, respeitado, idolatrado e eterno, como o
Vasco que escolheu amar e respeitar até fim da sua vida.
Vai com Deus mestre Chico!
Jo Mariano
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